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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Destino

Andava numa felicidade sem precedentes. Foram muitos anos amargando tropeços, mas a sua sorte estava para mudar. Uma cigana lhe vendeu esta convicção ao preço das moedas que ele tinha nos bolsos, nenhum centavo a mais ou a menos. Bastou que a mulher visse dinheiro em seu caminho para ele, imediatamente, deixar a prudência de lado e abraçar a crença de olhos fechados. O bom devoto, afinal, é a necessidade quem faz. Desdenhou dos conselhos amigos e passou, sim, a contar com os ovos na galinha. O que era seu estava encomendado. Para desfazer dos cuidados adotava ditados de última hora e reles grandeza. O que é do homem, o bicho não come. Reassumiu antigas dívidas e abriu novos crediários. Na festa que planejou para marcar a sua nova fase, só pôde comparecer de caixão lacrado. Andava numa distração sem precedentes, enquanto o carro-forte levava, em alta velocidade, o dinheiro ao seu destino.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Averbação

No começo, ele. Sem tempo ou corrosão. Tudo e apenas ele. Sem verbo. Sem danação. Somente coisas sem palavras. Nem ordens, nem nomes. Tudo desapropriadamente livre, solto. Apenas ele, colocado fora do caos. Punição? Tudo ordenadamente lindo e belo. Até que um silêncio, um sono profundo. Armadilha? Sob o arco da respiração, a fratura. Então, ela. Dois. Nada mais. Tudo e apenas eles, apropriadamente livres. Quase silêncio. Nenhuma treva ou maldição. O tempo inteiramente tempo, completo, absoluto. Ou nenhum. Os corpos insensíveis às nódoas. Sem verbo, sem corrosão. Apenas ele e ela. Eternidade? Paraíso? O sumo de um fruto espremido, consumido. Então, o verbo. O primeiro de muitos e muitos. Proibido? O verbo, a carne, o sangue. Averbado o princípio da invenção. Deus?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Non sense, sua vida parecia filme.

Non sense, sua vida parecia filme. Por mais que tentasse ignorar, o estranho sempre lhe ocorria. Inevitável. Apenas um convite para ser feito ali, no trânsito comum de algumas ruas. A conversa deveria ser rápida. Deveria, mas o amigo atravessou uma esquina pelo meio do assunto. Empacou.

– É com ésse.

– Hã?

– Casa.

– Isso, lá em caza.

– Tá errado.

– Oi?

– Você disse caza.