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sábado, 27 de novembro de 2010

Clandestinas

Um longo tempo escolhendo palavras e elas encolhem, morrem de medo, esgueiram-se por cantos e frestas, até que aprendem a conviver com formigas e aranhas. Esta convivência as ensina a carregar farelos do meu dia-a-dia, as migalhas do pão esquecidas sobre a mesa, os grãos de açúcar preguiçosamente derrubados ao lado da xícara de café. As palavras aprendem a roubar as sobras de meus hábitos alimentares. Aprendem a produzir teias e multiplicar-se milagrosamente na poeira embaixo da pia, atrás do armário. As palavras incham em colônias clandestinas instaladas nos ocasos de meu lar. Finjo que não as percebo e embora eventualmente as esmage, elas retornam para recolher alimentos que escondem em alguma caverna bem embaixo do meu nariz.

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